Como Buffon virou o jogador mais admirado do mundo

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Buffon chora e é consolado após a queda da Itália na repescagem da Copa do Mundo
Buffon chora e é consolado após a queda da Itália na repescagem da Copa do Mundo Marco Luzzani/Getty Images

Na última quarta-feira, o mundo do futebol voltou a se emocionar com o goleiro Gianluigi Buffon, depois que o meia Ivan Rakitic, do Barcelona e da seleção da Croácia, disse que, se fosse possível, faria ao italiano sua vaga para jogar a próxima Copa do Mundo, tamanho o respeito que tem pelo veterano da Juventus e agora aposentado da seleção italiana - a Azzurra ficou de fora do Mundial da Rússia após perder o confronto de repescagem para a Suécia, na semana passada.

A queda da Itália nos playoffs, aliás, fez diversos outros jogadores enviarem mensagens públicas de admiração e afeto a Buffon, mostrando que hoje o homem que disputou as Copas de 1998, 2002, 2006 (campeão), 2010 e 2014 é o jogador mais querido e admirado do mundo, ao menos entre os próprios boleiros. 

Um dos primeiros a se manifestar após a queda italiana na repescagem foi o também lendário Iker Casillas, tradicional rival de "Gigi" em muitos Real Madrid x Juventus e Espanha x Itália ao longo dos últimos anos. A mensagem teve grande repercussão e emocionou os fãs de futebol espalhados pelo planeta.

"Não gosto nada de te ver assim [chorando]. Quero seguir de vendo como vejo até hoje, como o que segue sendo para muitos: uma LENDA. É um orgulho de conhecer e um orgulho ter te enfrentado muitas vezes. Você ainda tem muito para nos oferecer no futebol, amigo! Nº 1", escreveu o espanhol, hoje no Porto. 

Outro espanhol que o enfrentou bastante, tanto por clubes quanto por seleções, o lateral esquerdo Jordi Alba, do Barcelona disse ao jornal Tuttosport que lamentava a ausência de Buffon na próxima Copa, já que seu sonho era jogar contra ele em um Espanha x Itália e trocar camisas com o goleiro depois da partida.

"Buffon é o melhor goleiro da história. Adoraria trocar camisas com ele e ter uma camisa de meu ídolo na minha coleção. Para mim, é um pecado que nem Buffon e nem a Itália estejam na próxima Copa", lamentou o ala esquerdo.

Via Twitter, Buffon agradeceu e prometeu: "Minha camisa está te esperando". 

Outro que não poupou palavras para demonstrar sua admiração pelo "eterno" arqueiro da Juve e da Azzurra foi o tcheco Petr Cech, atualmente no Arsenal. Em uma entrevista em 2015, antes da final da Champions League entre a "Velha Senhora" e o Barcelona, ele disse que torceria para os italianos vencerem só para ver "El Maestro", como Buffon é conhecido, levantar a taça. Além disso, exaltou o veterano como o maior e mais influente da história na posição.

"Oliver Kahn, Peter Schmeichel e Edwin van der Sar me inspiraram nos primeiros anos da minha carreira. Cada um deles tinha uma característica inspiradora, porque eram três personalidades muito diferentes. Mas aí veio Buffon e mudou tudo. Era como se ele tivesse inventado um jeito novo de jogar", derreteu-se. 

Ronaldinho e Buffon em 2010
Ronaldinho e Buffon em 2010 Getty

Buffon, de 39 anos, também já foi elogiado muitas vezes por sua inacreditável dedicação nos treinos. 

O ex-volante Andrea Pirlo, que recentemente se aposentou do futebol, por exemplo, disse que "era um prazer" ver "Gigi" treinando, tamanha a intensidade e o amor que ele tem pelo trabalho. Já o ex-goleiro Francesco Toldo, que jogou com Buffon na seleção italiana, foi mais longe: "Sua longevidade no futebol vem de seu incrível desejo de aprender e melhorar. Ele é insaciável nesse quesito, não importa quantas partidas faça e quantos títulos ganhe", explicou o ex-Inter de Milão.

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Apesar de hoje ser muito admirado por torcedores, técnicos e jogadores, Buffon nem sempre foi tão querido, principalmente por causa de três controvérsias: seu envolvimento com mensagens neo-nazistas e fascistas, uma falsificação de diploma e também a participação em apostas durante o escândalo Calciopoli, que rebaixou a Juventus para a 2ª divisão no meio dos anos 2000.

A primeira polêmica aconteceu quando ele ainda jogava no Parma e decidiu usar a camisa 88. Esse número, no entanto, é associado ao nazismo, já que neo-nazistas o utilizam como saudação (o H é a 8ª letra do alfabeto, e o 88 simbolizaria portando HH, que é a abreviação de Heil Hitler, saudação ao antigo líder alemã). 

Buffon já se envolveu em várias polêmicas
Buffon já se envolveu em várias polêmicas EFE/EPA/SIMONE ARVEDA

Buffon, no entanto, alegou que não sabia desse significado, e disse que o escolheu porque 88 simbolizaria "quatro bolas", o que apenas demonstraria seu amor e dedicação ao futebol. Para evitar maiores transtornos, porém, ele acabou mudando sua camisa para o número 77.

O goleiro, porém, voltou a ser criticado quando foi visto usando uma camisa com a frase "Boia chi molla" ("Quem desiste é um canalha") por baixo de seu uniforme de goleiro. Esse slogan foi usado por muito tempo e é utilizado até hoje por grupos fascistas, deixando o atleta novamente na berlinda.

Novamente, Buffon alegou que desconhecia o significado por trás da frase, e alegou que usava a camisa apenas para tentar dar moral aos companheiros, já que o Parma vinha de resultados ruins. Ele pediu desculpas pelo gesto "estúpido e ingênuo", e garantiu não sabia que ele estava associado à extrema-direita italiana.

Já em 2000, o jogador por pouco não foi preso por quatro anos após falsificar um diploma escolar para conseguir se matricular no curso de direito na Universidade de Parma. Ele foi julgado culpado, mas acabou pagando multa de 6,35 milhões de liras italianas (R$ 12,5 mil, na cotação atual) e sendo liberado. Depois, pediu desculpas pelo incidente, que descreveu "como maior arrependimento da vida", e reconhecendo que havia sido "um gesto extremamente desonesto". 

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Por fim, em maio de 2006, durante o apogeu do Calciopoli, Buffon foi acusado de apostar ilegalmente em jogos da Serie A italiana, o que quase o tirou do elenco que foi campeão da Copa do Mundo daquele ano, na Alemanha. O atleta foi interrogado e admitiu que apostou em vários jogos até os jogadores profissionais serem proibidos de fazê-lo, em outubro de 2005, mas garantiu que nunca apostou em um jogo de Campeonato Italiano. Em dezembro de 2006, ele acabou inocentado.

"Gigi", porém, limpou sua imagem com muitas atitudes louváveis. Ele é conhecido, por exemplo, por seu trabalho com entidades de assistências a pessoas carentes, e inclusive doa suas braçadeiras de capitão para leilão, com a renda sendo sempre revertida para a ajuda de pessoas em necessidade. Além disso, é um dos participantes do "Jogo da Paz", partida anual entre craques (aposentados e ainda em atividade) que arrecada fundos para entidades de assistência. 

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Já em maio de 2012, Buffon foi eleito vice-presidente da AIC, o sindicato dos jogadores da Itália, sendo o primeiro atleta ainda em atividade a ser eleito para a posição. No mesmo ano, ele foi escolhido como um dos embaixadores de o programa da Uefa que visa combater o racismo, a discriminação e a intolerância.

Tudo isso, somado às suas grandes atuações pela Juventus e pela Azzurra, transformaram o jogador em um ícone, admirado até mesmo pelas torcidas rivais. Não à toa, ele foi escolhido como maior goleiro de todos os tempos na Champions League em uma votação via Twitter organizada pela Uefa na temporada passada.

Entre outros prêmios individuais de destaque, aparecem o Troféu Nereo Rocco, uma das maiores honrarias do futebol italiano, que foi concedido em 2014 ao atleta por sua carreira distinta. No ano seguinte, ele foi apontado como maior goleiro da história pela revista France Football, uma das mais importantes do mundo.

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