Abaixo-assinado fez Palmeiras perdoar 'noite de amor' de Love

Francisco De Laurentiis, do ESPN.com.br, e Vladimir Bianchini, da Rádio ESPN
RUBENS CHIRI/Gazeta Press
Vagner Love Comemora Titulo Serie B Palmeiras Botafogo 29/11/2003
Love foi afastado do Palmeiras após aprontar, mas foi 'resgatado' pelos próprios colegas

No último domingo, o atacante Vagner Love desencantou e finalmente marcou seu primeiro gol com a camisa do Corinthians. Com uma carreira de sucesso por clubes como Palmeiras, Flamengo, CSKA Moscou e também com passagens pela seleção brasileira, o centroavante tem uma história curiosa de início de carreira, e, se não fosse por um abaixo-assinado, provavelmente não estaria hoje vestindo a camisa corintiana. Talvez nunca tivesse vestido o uniforme de nenhuma grande equipe...

Tudo aconteceu em 2003, quando Love estava dando os primeiros passos na base do Palmeiras. Como o Brasil todo ouviu falar, o camisa 9 foi flagrado com uma mulher na concentração da Copa São Paulo de Futebol Júnior e afastado do elenco pelo técnico Karmino Kolombini e pelo diretor Márcio Araújo, com aprovação do então presidente Mustafá Contursi. O que poucos sabem é que o atacante foi resgatado pelos próprios colegas de equipe em uma ação ousada.

Quem conta a história é o também atacante Edmílson, amigo e companheiro de Vagner desde a base do Palmeiras e que fez dupla infernal com o hoje corintiano na Série B de 2003. Hoje no Red Bull Brasil, o antigo parceiro de Love se lembra de tudo como se tivesse acontecido ontem.,

"Tudo começou quando 23h30 o Márcio Araújo convocou todos os atletas e disse que teria reunião, mas não falou sobre o que seria. Só vimos o Vagner chegar chorando, arrependido, e aí contaram o que tinha acontecido... No dia seguinte, teve jogo contra o São José e me perguntaram o que tinha acontecido com o Vagner. Eu falei que ele tinha torcido o tornozelo, mas o Márcio ouviu e chegou gritando: 'É mentira! Foi pego com mulher na concentração e está voltando agora para São Paulo!' (risos), recorda Edmílson, em entrevista à Rádio ESPN.

Só que os jogadores do Palmeiras sabiam que dificilmente venceriam a Copinha sem seu melhor jogador. Em 2002, ele havia feito incríveis 32 gols no torneio de juniores. Já em 2003, não estava com tanta fome de gol, mas atraía a atenção dos marcadores e permitir que os companheiros saíssem livres na cara dos goleiros.

Para serem campeões, os palmeirenses precisam resgatar o "artilheiro do amor".

Era hora de agir.

"Nas quartas de final, ganhamos de 3 a 2 do Vitória, mas foi um sufoco só, estávamos sentindo muita falta dele. Aí todos os jogadores se reuniram e resolveram tomar uma atitude. Fizemos um abaixo-assinado para tentar amolecer o coração do Mustafá, que não queria que o Love voltasse de jeito nenhum. Felizmente, deu certo, e ele tirou o Vagner da geladeira", contou Edmílson.

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Edmilson Vagner Love Palmeiras Botafogo Serie B 29/11/2003
Edmílson e Love: dupla fatal no Palmeiras

O matador chegou voando nas semis. Contra a Inter de Limeira, fez dois gols e o Palmeiras goleou por 7 a 1. Na final, não deu a mesma sorte, e o clube do Palestra Itália ficou com o vice, perdendo nos pênaltis para o Santo André. Mas Love já havia deixado o status de promessa e era encarado como uma realidade.

Aos 19 anos, porém, o técnico Jair Picerni ainda não tinha coragem de lançar a revelação da base como titular, principalmente pelo momento conturbado que o Palmeiras vivia.

Era necessário que acontecesse algo fora da curva...

Assista ao gol da vitória do Corinthians sobre o Bragantino por 1 a 0

O 7 a 2 e Love

Nenhum palmeirense gosta de lembrar a noite em que a equipe alviverde sofreu uma das maiores humilhações de sua centenária e gloriosa história. Em 23 de abril de 2003, o Palmeiras foi goleado por 7 a 2 pelo Vitória em pleno Palestra Itália, pela Copa do Brasil, em uma noite em que o nem "São" Marcos foi poupado pelos torcedores.

Só que a dolorosa derrota acabaria sendo o ponto de mutação dos palestrinos naquela temporada. Após o massacre, Jair Picerni promoveu uma revolução total no elenco. Afastou 13 jogadores e promoveu um pacotão de atletas da base, incluindo Love.

Uma semana depois, alviverdes e rubro-negros voltaram a se encontrar, e a molecada palmeirense deu show. Com dois gols de Vagner e um de Anselmo, o clube paulista bateu o forte Vitória de Dudu Cearense, Alecsandro e Nadson por 3 a 1 em Salvador. Depois disso, os garotos da "geração de ouro" nunca mais deixariam o time titular.

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Edmilson Vagner Love Comemoram Gol Palmeiras America-RN Serie B 03/05/2003
Love e Edmílson comemoram gol

"Depois daquele 7 a 2, o Jair mexeu tudo. Afastou 13 e chamou toda aquela molecada. No jogo seguinte, fomos ao Barradão e passamos por cima dos caras, 3 a 1. A nossa turma, que tinha eu, Vagner Love, Diego Souza, Alceu, Gláuber, Francis, se firmou a partir daí", lembra Edmílson.

A partir da goleada para o Vitória, portanto, formou-se o time que conquistaria o título da Série B e recolocaria o Palmeiras na elite do Brasileirão. Vagner foi o destaque daquela campanha, terminando como artilheiro do torneio (19 gols), enquanto Edmílson contribuiu com outros 11 - incluindo o mais importante da competição: o da vitória por 2 a 1 sobre o Sport, em Garanhuns, que garantiu a taça e o acesso.

Depois disso, Love e os parceiros de Palmeiras seguiram caminhos distintos. O "artilheiro do amor" seria vendido em 2004 para o CSKA, ficando muitos anos por lá e rodando por outras equipes até chegar ao Corinthians, em 2015. Já Edmílson foi para o Albirex Niigata, do Japão, e ficou oito anos na terra do sol nascente. Jogou também no Catar, antes de acertar com o Vasco, em 2013, chegando ao Red Bull neste ano.

Mas quem sabe o que teria acontecido se não fosse aquele abaixo-assinado?

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